A SAUDADE DESMEDIDA DAS COISAS
Fotos e texto por Melvin Quaresma
Aos meus cinco anos de idade, me mudei com meus pais e irmão de Belém do Pará para o sul do país, mais especificamente para a praia do Campeche, em Florianópolis. A mudança brusca de ambiente é ainda viva em minha memória. Lembro bem de como eu imaginava aquele novo lugar: lá, bem pertinho da praia, moraríamos numa casinha de madeira, multicolorida, de luzes amarelas e gente por todo o lado. Minha imaginação, na verdade, não corria muito longe. Aquela casinha de madeira em minha mente era uma réplica imaginada da casa de minha avó "Zinha" — onde vivi grande parte da infância, e onde este ensaio reside.
Em 2012, aos 17 anos de idade, visitei a casa de minha avó materna com câmera em mãos pela primeira vez. Ali comecei esta série, que inicialmente não carregava mais do que a intenção de fotografar pessoas sem o peso da timidez. Diferente de outras ocasiões, em que fazer retratos era tarefa difícil, na casa de vovó tudo era mais fácil. Bem honestamente, esse é o motivo pelo qual comecei a fotografar minha própria família.
Depois de algumas idas a Belém e à casa de minha avó, os motivos do fazer aquelas fotografias foram sendo repensados. Por que sinto essa saudade desmedida das coisas? De onde vem isso? Por que quero fotografar as coisas num impulso de guardar? A fotografia me basta pra guardar?
Ainda são muitas as perguntas que movem esta e outras séries em meu trabalho, mas hoje compreendo as fotos na casa de minha avó materna como um incontrolável impulso de tentar guardar coisas, pessoas, de uma maneira difícil de compreender. Me sinto muito movido pelas saudades, me apego às coisas de maneira intensa, e minha fotografia parece só existir de maneira plena quando me sinto de fato conectado sentimentalmente com o que fotografo. Estas são algumas fotos do ensaio 913, fruto desse sentimento que pouco entendo mas muito me move.
Para saber mais sobre o trabalho de Melvin Quaresma:
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