O Coletivo Afrotometria, formado em 2018, tem a fotografia como ferramenta de fortalecimento e visibilidade para o povo preto
Texto: Everyday Brasil
Fotos: Afrotometria
Composto por Fernando Solidade, Iná Henrique Dias, Isabela Alves, Sergio Fernandes e Tiago Santana, o coletivo de fotografia Afrotometria nasceu da necessidade de firmar o próprio lugar e colocar em evidência o que tem sido produzido por profissionais e artistas negros e negras. "Visto que os espaços consolidados no ambiente da fotografia tendem a manter o viés comumente racista, criaremos nossos espaços", afirma Sergio, um dos representantes do coletivo.
O coletivo, situado em São Paulo, mesmo com pouco tempo de existência já possui uma trajetória de realizações e tem ganhado visibilidade no meio da fotografia com sua luta e abordagem de temas urgentes para a sociedade.
Em 2018, primeiro ano do coletivo, criaram o projeto Foto Preta, uma exposição com trabalhos de 30 fotógrafos(as) negros(as), dos quais muitos nunca tinham exposto sua produção anteriormente. A primeira edição aconteceu na Casa Elefante, na região central da cidade.
Em sua sua segunda edição, o projeto acontece neste momento nas estações Santa Cruz, Eucaliptos e Brooklin do metrô, entre os meses de julho e setembro. Entre os(as) fotógrafos(as) convidados(as) para a exposição estão Bruno Pompeu, Daisy Serena, Nego Junior, Hudson Rodrigues e Georgia Niara.
Em ambas as edições, a exposição foi realizada de maneira independente, sem patrocínio. "Estamos pagando para expor os nossos trabalhos. A sociedade, de modo geral, não nos dá muito valor. Mas se você observar, a maioria das imagens vencedoras de concursos são de um corpo negro retratado por um fotógrafo branco", lamenta Sergio que cita, ainda, exemplos em outras áreas como o de José Padilha dirigindo o filme sobre Marielle Franco e o jornalista William Waack comentando sobre ações racistas na CNN. Fatos estes que ignoram a existência de profissionais negros e negras, até mesmo quando o assunto a ser tratado e exposto diz respeito, sobretudo, a eles mesmos.
O projeto também tem ganhado espaço fora do Brasil. No ano passado, os membros do Afrotometria estiveram na Espanha, nas cidades de Salamanca e Madri, onde foram convidados a realizar uma exposição e oficina de fotografia.
Na opinião de Sergio, uma pessoa preta com uma câmera na mão pode contar a própria história sem a intervenção de terceiros e, dessa forma, combater o racismo estrutural e suas consequências, uma vez que a imagem tem papel importante na construção do imaginário de uma sociedade. "O racismo nos ensina que, enquanto povo preto, apenas temos progresso real quando agimos coletivamente, criando nossos próprios espaços, agendas e estrutura", pontua.
Atualmente o coletivo tem trabalhado na elaboração de um site onde pretendem mapear os(as) fotógrafos(as) negros(as) do Brasil e disponibilizar o espaço para que funcione como uma galeria, onde cada fotógrafo(a) possa apresentar seu trabalho e contar sua história.
Para saber mais sobre o trabalho do Coletivo Afrotometria:
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